Justiça Itinerante realiza mais de 400 atendimentos no Complexo Penitenciário de Bangu

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Foto do casamento de Hildeni Brasil e Jorge Luis Silva em frente ao Ônibus da Justiça Intinerante

Retoca a maquiagem, ajeita a tiara, levanta o vestido para não sujar. "Ele não sabe que eu estou linda assim pra ele", derrete-se a ansiosa Hildeni Brasil, minutos antes de reencontrar Jorge Luis Silva, o futuro marido. "Aqui no presídio é a noiva quem espera o noivo", brinca a moradora da Rocinha. Depois de dez anos de união, os dois se casaram no pátio do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, que abriga mais de 3,5 mil internos - todos no regime semiaberto. As vidas de Hildeni e Jorge e de outros 13 casais ganharam nova perspectiva graças ao programa Justiça Itinerante, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), que levou seu ônibus de atendimento, nesta terça, dia 24, para prestar uma série de serviços como a conversão de união estável em casamento, emissão de documentos como certidão de nascimento, CPF e RG. Ao todo, mais de 400 atendimentos foram realizados pelo Justiça Itinerante e 150 documentos foram emitidos.

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Se para Hildeni e Jorge o casamento é a realização de um sonho, para Igor Cavalcante e Shayene Rosas a união simboliza uma nova vida. Foram 16 anos de espera. "Me enrolou, hein!", brinca a noiva. Já ele, mais sério e aliviado, admite. "Ela é a razão da minha vida. Teve paciência, aguentou tudo ao meu lado. O casamento tem aquela frase "na alegria e na tristeza". Passamos momentos muito difíceis, ela perdeu dois gêmeos em sua gravidez, mas superamos porque cremos que agora somos um só. Estamos mais fortes, mais amadurecidos e mais apaixonados".

Quem está sob o "último cadeado" - jargão utilizado pelos agentes penitenciários para os que cumprem o semiaberto - é fundamental retomar a vida com toda a documentação. Nos planos de Yago Corrêa estão o serviço de bufê da mãe, do qual ele vai ajudar como motorista. "Ela está lá me esperando e eu não vejo a hora de reencontrá-la", comemora o ex-militar que tirou segunda via da certidão de nascimento.

 

Inspiração para a Justiça Federal

As audiências realizadas no ônibus pelas juízas Helena Dias Torres, Ana Carolina Villaboim e Thereza Cristina Nara da Fontoura Xavier foram atentamente acompanhadas por uma comitiva de juízes federais e defensores públicos da União. Isso porque o Tribunal Regional Federal da 2ª Região pretende implantar um programa semelhante ao Justiça Itinerante. Na primeira etapa, os magistrados federais vão atuar em parceria com o TJRJ para resolver pendências previdenciárias com detentos e o público atendido pelo programa.

"É importante o juiz sair do gabinete e conhecer a realidade, as necessidades da população. Aqui no atendimento em Bangu nós, juízes e funcionários, saímos renovados. O que parece simples como tirar uma carteira de identidade, para muitos, é uma nova chance", explica a juíza Helena Dias.

O diretor do instituto penal, Anderson Leone Teixeira, também teceu elogios ao Justiça Itinerante. "Precisamos muito desse serviço do tribunal. Os internos ficam motivados, reacende uma esperança para eles. Quando há oportunidade, eles agarram".

Coordenado pela desembargadora Cristina Gaulia, o Justiça Itinerante conta com as parcerias da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, Detran, Ministério Público e Defensoria Pública. A próxima edição será no dia 28 de novembro, na mesma unidade.

 

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