Justiça Itinerante leva Esperança e Alegria ao Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho

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Nem mesmo o clima abafado e as nuvens cinzas diminuíram a empolgação de Jacqueline Soares. Nessa terça-feira, dia 28, ela foi ao Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, para se casar com Antônio Marcos de Araújo. O casal realizou um sonho adiado por décadas ao ser atendido pelo programa Justiça Itinerante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), que foi ao presídio para realizar cerca de 400 serviços, entre eles emissão de documentos como CPF, RG e certidão de nascimento.

Antônio é um dos 3.500 presos no local e um dos 18 que converteram suas uniões estáveis em casamento nessa terça-feira. Cumprindo pena há oito anos, ele deixará a cadeia em dezembro. Sua nova vida, como afirmou, começou a partir do casamento com a sua fiel companheira e mãe dos seus dois filhos, de 17 e 10 anos.

"Ela esteve ao meu lado o tempo todo, principalmente nesses momentos difíceis. Meu passado ficou para trás, sou uma pessoa nova. Ela e meus filhos me dão toda a força que eu preciso", disse Antônio, que afirmou ter recebido o melhor presente de sua vida. Amanhã, dia 29, ele faz 43 anos. Os dois se conheceram em 1997. Ela era passageira na van conduzida por Antônio e comentou que eles se paqueravam pelo retrovisor. De acordo com Jacqueline, era impossível resistir aos olhos azuis do motorista, e se gabou ao dizer que passou a frente de várias concorrentes para ficar com o pretendente.

Um pouco antes de ser chamada para a audiência que iria selar sua união com o parceiro de 20 anos, Jacqueline sorria e abraçava muito o companheiro. Antes mesmo de a juíza Maria Cristina de Brito Lima perguntar se ela aceitava Antônio como marido, ela se apressou e disse sim, já às lágrimas, para risada de todos.

Ela disse que estava ansiosa e não conseguiu dormir direito nos últimos dois dias. Agora, com a situação já acertada no civil, ela mandou um recado ao marido: quer casar na Igreja, com direito a "um festão com muita comida e dança". "Eu estou a mil por hora. Ele sabe que eu sempre quis casar e me surpreendeu quando disse que tinha entrado com o pedido através do Justiça Itinerante. Agora é bola pra frente, unir a família toda e começar essa nova vida com muita alegria. ", afirmou a esposa.

A juíza Maria Cristina, que liderou os trabalhos ao lado da juíza Mariana Tavares Shu, afirmou que o Justiça Itinerante resgata a autoestima dos apenados e dá esperança para que eles possam recomeçar suas vidas a partir do atendimento humanizado. "Nosso trabalho é resgatar a cidadania. A tendência é que essas pessoas sejam abandonadas, mas elas ainda são cidadãs. Nós vemos a eficácia da ação do Estado e é muito prazeroso saber que a gente está ajudando. Dá pra perceber a alegria e o alívio das pessoas quando regularizam suas situações", avaliou.

A juíza Maria Cristina também exaltou os benefícios que a iniciativa leva às mulheres dos presos. De acordo com a magistrada, quando a união estável é convertida em casamento, as companheiras se sentem mais amparadas para superar os desafios cotidianos.  "As mulheres vêm toda contentes. Muitas delas ficam sozinhas quando seus parceiros são presos e o casamento legal facilita a vida, para que elas providenciem coisas que não conseguiriam só com a união estável. Isso dá segurança para que elas consigam cuidar dos filhos, por exemplo", disse.

As atividades no presídio Plácido de Sá Carvalho foram feitas em parceria com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, o Ministério Público, a Defensoria Pública e o Detran. O subsecretário adjunto de Tratamento Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro, Gilson Sebastião Nogueira, acompanhou os trabalhos. Nessa edição, uma equipe da Justiça Federal também visitou o Instituto Penal e afirmou que pretende elaborar um projeto com base no Justiça Itinerante do TJRJ.

 

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